Bento XVI e a Copa do Mundo: saiba o que o Papa pensa sobre futebol
Em 1985, quando ainda era Arcebispo de München, o então Cardeal Joseph Ratzinger escreveu o artigo O jogo e a vida: sobre o Campeonato Mundial de Futebol.
No texto, Ratzinger dedicou-se a identificar quais as motivações que levavam o esporte a atrair centenas de milhares de pessoas ao redor do mundo. "O que demonstra que, através dele, toca-se algo radicalmente humano, e cabe se perguntar onde encontra-se o fundamento deste poder em jogo", indicou.
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Ratzinger debruça-se na busca por esse fundamento e nega-se a aceitar a visão pessimista - julgando-a ineficiente - que, a partir de uma comparação com a Roma Antiga, acredita que os jogos seriam o conteúdo de uma sociedade decadente que já não conhece objetivos mais elevados.
A óptica proposta pelo atual Papa Bento XVI é bem mais positiva e compara o jogo a uma "espécie de tentativa de retornar ao paraíso: sair da escravizante seriedade da vida cotidiana e de seus cuidados para a seriedade livre do que não necessariamente tem que ser e que, justamente por isso, é bonito. Frente a isso, o jogo transcende, em certo sentido, a vida cotidiana", escreve.
Além disso, Ratzinger defende que o jogo exerce, especialmente sobre a criança, o caráter de preparação para a vida, simbolizando-a e conduzindo-a de forma plasmada com liberdade.
"Na minha opinião, o fascínio do futebol encontra suas raízes no fato de que reúne esses dois aspectos de forma muito convincente. Obriga o homem, acima de tudo, a se disciplinar, de modo que, pela formação, adquira a disposição sobre si mesmo, por tal disposição a superioridade e, pela superioridade, a liberdade. Mas, depois, lhe ensina também a cooperação disciplinada: como jogo em equipe, o futebol obriga a um ordenamento de si mesmo dentro do conjunto. Une através do objetivo comum; o êxito e o fracasso de cada um estão cifrados no êxito e fracasso de todos".
O atual Papa também ressalta que o futebol ensina um confronto limpo, "em que a regra comum a que o jogo se submete segue sendo o que une e vincula mesmo na posição de adversários [...]. Na qualidade de espectadores, os homens identificam-se com o jogo e com os jogadores e, desse modo, participam da comunidade da própria equipe, do confronto com o outro, bem como da seriedade e da liberdade do jogo: os jogadores passam a ser símbolos da própria vida. Isso também atua retroativamente sobre eles: sabem, com efeito, que as pessoas se veem representadas e confirmadas a si mesmas neles", explica.
Por fim, o então Cardeal alerta que tudo isso pode ser pervertido por um espírito comercial que submete tudo ao dinheiro, fazendo com que o jogo se transforme "em uma indústria que suscita um mundo de aparência de dimensões horrorosas. Mas até esse mesmo mundo de aparência não poderia subsistir se não houvesse a base positiva por trás do jogo: o exercício preparatório para a vida e a transcendência da vida em direção ao paraíso perdido".
Ratzinger acredita que é possível aprender novamente sobre a vida a partir do jogo, em especial que não somente de pão vive o homem e, mais ainda, que "o mundo do pão é, em última análise, apenas a fase preliminar do que é propriamente humano, o mundo da liberdade. Mas a liberdade vive da regra, da disciplina que aprende o agir em conjunto e o correto confronto, o ser independente do êxito exterior e da arbitrariedade, e desse modo chega a ser verdadeiramente livre. O jogo, uma vida: se aprofundamos, o fenômeno de um mundo entusiasmado pelo futebol pode nos oferecer mais que um mero entretenimento".[
Fonte: Canção Nova
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