A CNBB divulgou em 17 de fevereiro uma “Nota sobre ética e programas de TV”, voltada especialmente aos “Realities Show”, dos quais o Big Brother Brasil é o mais conhecido.
Os bispos advertem para o fato de que esses programas “atentam contra a dignidade de pessoa humana, tanto de seus participantes, fascinados por um prêmio em dinheiro ou por fugaz celebridade, quanto do público receptor que é a família brasileira”. Exortam a todos “no sentido de se buscar um esforço comum pela superação desse mal na sociedade, sempre no respeito à legítima liberdade de expressão, que não assegura a ninguém o direito de agressão impune aos valores morais que sustentam a Sociedade”. Sugerem particularmente aos pais, mães e educadores que busquem através do diálogo formar nos jovens “o senso crítico indispensável e capaz de protegê-los contra essa exploração abusiva e imoral”.
Como desenvolver este “senso crítico frente a essa exploração abusiva e imoral” e colaborar “na superar este mal”?
Todo ser humano experimenta, em sua vida, um conjunto de exigências fundamentais, tais como as de felicidade, realização, amor, liberdade, justiça, etc. Estas exigências formam o verdadeiro núcleo em torno do qual construímos nossas personalidades. Na linguagem bíblica, formam o nosso “coração”. Correspondem aos desejos mais profundos de nosso ser, à “experiência elementar” que está na base de todas as nossas ações no mundo [cf. GIUSSANI, L. O senso religioso. Brasília: Editora Universa, 2010].
A compreensão desta “experiência elementar” nos fornece critérios para entender o sucesso destes “Realities Show” e discernir melhor sobre as formas pelas quais a comunidade cristã pode colaborar na superação do mal que eles representam.
Nosso coração nos pede todos os dias uma vida que vale a pena ser vivida, para que encontremos a beleza, o amor e a verdade. Pede-nos que sejamos protagonistas em nossas próprias vidas, que ajudemos a construir um mundo mais humano para nós e para os outros. Um coração jovem, mesmo que esteja em um corpo avançado em anos, nos pede para que a vida seja uma grande e deslumbrante aventura. Não perder este desejo é um grande desafio e uma grande sabedoria.
Por trás do sucesso dos “Realities Show” está justamente a frustração deste desejo, que acontece cada vez mais cedo na vida dos jovens. Eles – e não só eles – queriam viver uma existência bela e rica, mas o cotidiano parece chato e sem motivação. Gostariam de ser protagonistas na construção de um mundo melhor, mas todos os dias experimentam a impotência e a falta de perspectiva. Vivem a dolorosa frustração do tédio e da falta de uma verdadeira novidade.
Por isso, as pessoas procuram nos “Reality Show” a emoção que lhe falta no dia a dia. Lá, a realidade parece emocionante, adquire por um instante a intensidade que lhe foi roubada no cotidiano. Percebem-se impotentes no dia a dia, mas se sentem quase deuses vendo tudo que se passa com aqueles que estão na telinha da TV.
Olhando para nossa “experiência elementar” percebemos que o antídoto para esta emoção vazia, que leva nosso desejo de bem a se reduzir, que anestesia diante dos atentados contra nossa dignidade, é redescobrir toda a beleza, toda a grande e verdadeira paixão que a vida nos oferece. O cotidiano não é o lugar da mesmice de sempre, mas da grande aventura da vida.
Isso é parte do “cêntuplo aqui” do qual fala o Evangelho. Para isso nos reunimos na comunidade cristã: para nos ajudarmos a encontrar a pessoa de Cristo, para que seu amor inunde toda a nossa vida, mostrando toda a beleza, todo amor e toda a verdade para a qual fomos feitos. Este é o testemunho que recebemos de tantos amigos em nossas comunidades e que nós mesmos somos chamados a dar ao mundo.
Fonte: CatolicaNet
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