sábado, 12 de março de 2011

CNBB abre a CF 2011 e recebe mensagem do Papa

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) abriu na tarde da Quarta-Feira de Cinzas, a Campanha da Fraternidade 2011, “Fraternidade e a Vida no Planeta”, numa coletiva de imprensa, em Brasília. O secretário geral da CNBB, Dom Dimas Lara Barbosa, e o secretário executivo da Campanha da Fraternidade, Padre Luiz Carlos Dias, apresentaram os objetivos da Campanha, destacando seus principais pontos.

Dom Dimas disse que a Campanha deste ano apresenta uma reflexão bastante ampla, refletida em dois grandes temas preocupantes: aquecimento global e mudanças climáticas. Ele acrescentou que, a partir desses pontos, a Igreja no Brasil mostra que está preocupada em discutir temas relevantes para a sociedade viver melhor.

Já o Padre Luiz Carlos Dias afirmou que um dos passos importantes da Campanha é mobilizar as pessoas em torno de políticas públicas por mudanças que favoreçam o desenvolvimento da temática proposta.

- Queremos mobilizar a sociedade para agir de forma positiva nos diversos níveis da sociedade civil e dos poderes constituídos, para a aplicação de políticas que favoreçam um planeta melhor para todos viverem, frisou o secretário da Campanha.

Código Florestal
Segundo Dom Dimas, a aprovação das mudanças no Código Florestal Brasileiro têm ocupado a pauta de preocupações da CNBB. Há um ano, o Conselho Episcopal Pastoral da CNBB (Consep) emitiu uma nota em que enumera alguns itens preocupantes no texto que muda o Código.

- Tivemos, há pouco tempo, uma reunião com técnicos do Ministério do Meio Ambiente e pudemos observar o esforço que setores do Governo estão fazendo para dialogar com movimentos sociais representativos das comunidades mais vulneráveis, como quilombolas, ribeirinhos, povos indígenas, barragens. Esses movimentos todos têm procurado o Governo e a CNBB no sentido de incentivar para que não sejamos tão apressados em aprovar o novo Código Florestal, disse Dom Dimas.

Ele expressou, ainda, preocupações com o Pré-Sal e com a usina Belo Monte, que será construída no Xingu. Segundo disse, Altamira já sente o impacto da obra com a chegada em massa de novos moradores e que a cidade não tem infraestrutura para acolher a todos.

Ações concretas
Dom Dimas enumerou algumas ações concretas que a Campanha sugere nos níveis pessoal, comunitário e de governo, para a preservação do meio ambiente.

- O cidadão pode colaborar com pequenas ações e cultivar hábitos saudáveis, como a utilização de fontes renováveis de energia, como é o caso da energia solar, coleta seletiva de lixo, a própria questão do respeito com relação à água, advertiu.

O secretário disse ainda acreditar na mobilização coletiva para a mudança de comportamento e educação das pessoas para um modo de vida que favoreça a humanidade. Ele citou o caso da crise do apagão, ocorrida em 2001 e 2002 no Brasil, como exemplo de mobilização da sociedade que pode gerar conscientização e respeito para com o meio ambiente.

Mensagem do Papa para CF 2011
O Papa Bento XVI enviou ao presidente da CNBB, Dom Geraldo Lyrio Rocha, uma mensagem cumprimentando a Igreja no Brasil pela Campanha da Fraternidade, aberta na Quarta-feira de Cinzas.

Ao venerado irmão,
Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana (MG) e Presidente da CNBB

É com viva satisfação que venho unir-me, uma vez mais, a toda Igreja no Brasil que se propõe percorrer o itinerário penitencial da quaresma, em preparação para a Páscoa do Senhor Jesus, no qual se insere a Campanha da Fraternidade cujo tema neste ano é: “Fraternidade e vida no Planeta”, pedindo a mudança de mentalidade e atitudes para a salvaguarda da criação.

Pensando no lema da referida Campanha, “a criação geme em dores de parto”, que faz eco às palavras de São Paulo na sua Carta aos Romanos (8,22), podemos incluir entre os motivos de tais gemidos o dano provocado na criação pelo egoísmo humano. Contudo, é igualmente verdadeiro que a “criação espera ansiosamente a revelação dos filhos de Deus” (Rm 8,19). Assim como o pecado destrói a criação, esta é também restaurada quando se fazem presentes “os filhos de Deus”, cuidando do mundo para que Deus seja tudo em todos (cf. 1Co 15,28).

O primeiro passo para uma reta relação com o mundo que nos circunda é justamente o reconhecimento, da parte do homem, da sua condição de criatura: o homem não é Deus, mas Sua imagem; por isso, ele deve procurar tornar-se mais sensível à presença de Deus naquilo que está ao seu redor: em todas as criaturas e, especialmente, na pessoa humana há uma certa epifania de Deus. “Quem sabe reconhecer no cosmos os reflexos do rosto invisível do Criador, é levado a ter maior amor pelas criaturas” (Bento XVI, Homilia na Solenidade da Santíssima Mãe de Deus, 1/1/2010). O homem só será capaz de respeitar as criaturas na medida em que tiver no seu espírito um sentido pleno da vida; caso contrário, será levado a desprezar-se a si mesmo e aquilo que o circunda, a não ter respeito pelo ambiente em que vive, pela criação. Por isso, a primeira ecologia a ser defendida é a “ecologia humana” (cf. Bento XVI, Encíclica Caritas in veritate, 51). Ou seja, sem uma clara defesa da vida humana, desde sua concepção até a morte natural; sem uma defesa da família baseada no matrimônio entre um homem e uma mulher; sem uma verdadeira defesa daqueles que são excluídos e marginalizados pela sociedade, sem esquecer, neste contexto, daqueles que perdem tudo, vítimas de desastres naturais, nunca se poderá falar de uma autêntica defesa do meio-ambiente.

Recordando que o dever de cuidar do meio-ambiente é um imperativo que nasce da consciência de que Deus confia Sua criação ao homem não para que este exerça sobre ela um domínio arbitrário, mas que a conserve e cuide como um filho cuida da herança de seu pai, e uma grande herança Deus confiou aos brasileiros, de bom grado envio-lhes uma propiciadora bênção apostólica.

Vaticano, 16 de fevereiro de 2011
Bento XVI

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