O “primeiro dia da semana” tornou-se dia do Senhor (domingo). Portanto, agora é do Senhor este dia! E quando dizemos do Senhor, falamos do Cristo ressuscitado, vivo. Isto significa: Este é o dia especial, "primordial", no dizer do concílio Vaticano II (cf. SC 106), em que as comunidades cristãs, reunidas em assembléia, fazem esta experiência: O Senhor Jesus Cristo está vivo em nós e nós temos vida em sua vitória sobre a morte. Este é o dia semanal da Páscoa, ou seja, dia em que a Páscoa do Senhor e nossa é experimentada como bem viva, presente, aqui e agora. Como diz São Jerônimo (+ 419), cheio de entusiasmo: "O domingo é o dia da ressurreição, o dia dos cristãos; é o nosso dia".
Por isso que em algumas línguas esse dia até recebeu o nome, não de “domingo”, mas de “dia da ressurreição”. Por exemplo, entre os gregos bizantinos, o domingo é chamado de “anastasimós”. Na lingua russa, por influência da cultura religiosa bizantina, é chamado de “vosskresenije”. São nomes que significam a mesma coisa: “ressurreição”, “dia da ressurreição”. O domingo é o dia semanal da Páscoa.
Quando os discípulos e discípulas de Jesus, no primeiro dia da semana, perceberam que Jesus está vivo, encheram-se de intenso júbilo: Não estava tudo perdido, não! Muito pelo contrário: Agora é que começa o tempo bom, o tempo novo, o dia novo e eterno. Estamos salvos, para sempre. O futuro é garantido e certo. Na Páscoa de Cristo passamos da situação de frustração e de morte para uma situação de vitória certa e de vida. Esta é a grande riqueza deste dia, dia do Senhor, dia dos cristãos, dia das comunidades cristãs, dia de toda a criação renovada.
Verdadeiro "sacramento da Páscoa", este dia nos faz reviver, toda semana, a mesma experiência dos primeiros discípulos e discípulas: O Senhor está vivo nas lutas e vitórias da gente, e as lutas e vitórias da gente ganharam sentido na luta e vitória definitiva de Cristo. Neste dia, como aos apóstolos reunidos no cenáculo, ele aparece a nós reunidos em assembléia litúrgica e nos diz: "A paz esteja com vocês" (cf. Lc 24,36; Jo 20,19). Em outras palavras: Fiquem tranqüilos, não fiquem tristes, não se desesperem. Estou vivo, sou eu! Sintam-se comigo também vencedores...
Como celebramos este "sacramento" semanal da Páscoa, que chamamos domingo? Pela Eucaristia, pois nela celebramos precisamente a memória daquilo é a essência mesma do dia do Senhor: Páscoa!... “Anunciamos, Senhor, a vossa morte, e proclamamos a vossa ressurreição...”, dizemos nós na oração eucarística.
O domingo é também o dia da escuta da Palavra. Pois foi nesse dia que o Senhor ressuscitado abriu o sentido das Escrituras aos dois discípulos de Emaús (cf. Lc 24,25-27). É neste dia que Jesus continua a nos falar mediante a Palavra proclamada nas assembléias dominicais.
Neste dia os cristãos celebram a sua páscoa semanal, também pelo repouso. Pois, pelo repouso dominical, que renova nossas energias, celebramos (evocamos, simbolizamos) o repouso total que a Páscoa de Cristo nos garantiu a partir deste dia.
Celebramos este dia como um dia de festa, por ser o dia mais bonito da semana: Páscoa semanal dos cristãos, dia do Sol verdadeiro, dia da eternidade, dia do Espírito Santo que reúne e anima nossas assembléias, dia do Evangelho e da evangelização, dia da solidariedade pela visita aos doentes e participação em mutirões, dia da própria natureza em festa recebendo nossa visita. O canto dos pássaros, o murmúrio das águas, o calor do sol, a sombra das árvores, a brisa afagante, a beleza das flores, a dança borboletas, tudo evoca e celebra o mistério da vida que a Páscoa de Cristo resgatou. É a natureza em festa, sob o olhar contemplativo do ser humano, celebrando o Senhor dos dias que deu novo brilho e sentido a tudo. Por isso, faz sentido neste dia entrarmos em comunhão também com a natureza criada e re-criada no primeiro de todos os dias e, ao mesmo tempo, ouvir sua voz suplicante: Deixem-me viver, não me destruam, para poder celebrar sempre, com vocês, a nossa vitória, a vitória da Vida sobre a morte, que o domingo tão bem representa!
Frei José Ariovaldo da Silva, OFM